As peculiaridades de uma família!


Um tempo atrás eu compartilhei com vocês a minha visão sobre as relações humanas. Falei sobre as vantagens e desvantagens e um dos leitores e seguidor do blog pediu que eu falasse mais sobre as relações humanas dentro da família. Desde então eu venho pensando em como fazer isso, em como colocar em palavras a minha relação com minha família, até porque, convenhamos, não é tão simples falar de algo quando se está dentro do cenário. Não dá para perceber os próprios erros, partimos sempre da perspectiva de que o outro sempre será o algoz. Porém, eu venho tentando de toda forma mostrar para vocês como foi e é essa relação entre meus familiares e eu.

Vamos começar por meus pais, óbvio. Meu pai se chama Evanildo, mas todos o conhecem por Régis que é seu nome de guerra de quando era policial militar. Minha mãe se chama Solange e, atualmente, é dona de casa, mas faz muito trabalho artesanal de crochê e bordado de ponto cruz (se quiserem encomendar algo, fiquem à vontade, tá galerx). Eles são os pais que Deus me deu e eu os amo muito, mas se eu disser que tudo na nossa vida são flores, eu estou mentindo. Durante um longo tempo da minha vida eu costumava dizer que eu era feliz apenas até meu irmão do meio nascer e logo depois veio a caçula. Hoje eu já os enxergo em minha vida de uma outra maneira, mas levei muito tempo para aceitá-los.

 Lembro muito pouco da minha infância, mas sei que foi muito marcada por brigas dentro de casa, discussões, gritos e lágrimas. Lembro de ter ficado internada por uma doença que quase me matou com seis anos e lembro de meu pai detido no quartel depois de uma grande briga na frente do módulo onde ele trabalhava. Lembro do meu irmão do meio batendo uma porta e me fazendo perder parte de um dedo porque ainda estava com a mão na porta, lembro de ter o conhecimento de que tinha muitos mais irmãos do que imaginava por parte de pai. Um deles até morou comigo por um tempo. Apesar de toda confusão, também lembro de brincar de bike com meus primos e ficar dias assada por andar de bike quase um dia inteiro, lembro das aulas de reforço, lembro quando me apaixonei pela primeira vez e quando me descobri bissexual. Esse ponto, foi o pior de toda a minha vida, porque eu não fazia ideia do que fazer.

As coisas dentro de casa não estavam boas, na verdade, nunca estavam boas. Meu pai sempre foi um cara legal, pelo menos para mim e meus dois irmãos ele sempre foi um boom pai. Minha mãe também foi uma boa mãe, do jeito torto dela. Os dois nos deram educação e nos ofereceram mais do que tiveram quando jovens. Mamãe saiu cedo de casa e precisou se virar como podia nas ruas, papai perdeu a mãe cedo e precisou aprender a dar conta da casa junto com meu vô e seus irmãos. Porém, eu nunca entendi a falta do afeto. Pelo menos, eu achava que era falta. Eu não entendi que ao me dar educação, um teto para morar e um colchão para deitar quando me sentisse cansada era um jeito de dizer que me amava. Morei dezesseis anos da minha vida em uma casa pequena, um quarto, uma sala, um banheiro e uma cozinha. Era assim que nós cinco vivíamos. No quarto dormia meus irmãos e eu, na cama de casal que depois virou beliche. Meus pais dormiam na sala, no chão. Às vezes, dormíamos todos juntos na sala. Mas eu via a forma como minha dinda e minha prima se tratavam, via como as mães dos meus colegas os tratavam e eu me perguntava "por que com minha mãe não pode ser assim também?". Eu lembro vagamente de chegar da escola eufórica para conversar sobre o meu dia, sobre as coisas que aprendi e as brincadeiras que participei, dos amigos que fiz... mas a resposta era sempre "estou ocupada" ou "estou tentando assistir ao jornal". Eu sempre me senti um incômodo por isso. Sempre achei que não deveria interromper ou me fazer presente. Até porque, se insistisse, poderia receber seus gritos e ameaças de porrada. E eu não queria apanhar, então ficava quieta. Ao contrário dos meus irmãos que adoravam aprontar!!! Oh crianças para aprontar, eram Ícaro e Ludmila. 

Agora, o que isso tem a ver com o que eu escrevi antes? Vou lhes dizer agora! No texto das "Relações Humanas", eu falei sobre o benefício e a desvantagem e falei sobre as amizades, mas não falei sobre a família. E existe muita vantagem e desvantagem nessa relação. A primeira desvantagem é que você não pode escolher seus familiares. Pai, mãe, irmãos... nenhum deles é você quem escolhe. Eles são um pacote que a vida lhe oferece e você vai ter de lidar com eles, querendo ou não. A segunda desvantagem é o fato de que, independente do que você fizer ou disser, eles ainda serão sua família e as únicas pessoas com quem você poderá contar em uma situação emergencial de saúde (mesmo se você não quiser, acredite, eles ainda assim estarão por perto. Ou alguns deles, eu acho). Porém, essa desvantagem também é uma vantagem se você tem um relacionamento bom com seus familiares. A terceira desvantagem é que não dá para cortar laços como você faria com amigos(as) ou namorados(as), por mais que você ignore, demore para fazer contato, você sempre vai lembrar ou se preocupar com seus familiares (ou somente pelos pais, que lhe deram a vida). A quarta desvantagem é que se vocês moram todos debaixo do mesmo teto e houver uma briga, não há privacidade para chorar, gritar, quebrar coisas ou ignorar o mundo lá fora, pois não vai poder sair pra fazer isso em outro lugar (principalmente se for menor de idade).

Mas Jam, existem apenas desvantagens nas relações familiares? Claro que não! Mas, como já foi dito anteriormente em "Relações Humanas", isso é um negócio. Até mesmo dentro da própria família, isso é um negócio. Ninguém quer ficar perto de quem não lhe faz feliz. Muitas das vezes eu achava o máximo ser uma das últimas a ser deixada em casa pelo condutor, porque eu me sentia muito mais leve fora de casa. Eu não me sentia confortável ou a vontade para estar com eles, era como se meu lugar não pertencesse ali e comecei a criar laços com outras pessoas, criar a minha própria família de coração. Tenho alguns amigos que falam que eu sou o tipo de amiga-mãe, porque eu cuido deles, como quero que cuidem de mim, como eu queria ser cuidada por minha mãe quando mais nova. Hoje, esses sentimentos já não são tão fortes, mas não digo que reduziram a 80% do que era antes. Moro com minha companheira, estou perto dos vinte e seis anos, sinto falta dos meus pais, dos meus irmãos, mas não trocaria minha vida atual para voltar ao passado ou para voltar a morar com eles. Pois a distância, nos fez próximos e eu me arrependo de não ter feito isso antes, de não ter saído mais cedo das asas deles.

Espero ter respondido e correspondido ao seu comentário como ideal, querido leitor. Que você continue lendo meus textos e continue participando do meu mundo. Obrigada.



Beijos da Jam, até a próxima!

 


Comentários

  1. Sim!
    Eu ouvi muitos questionamentos com relação a isso, principalmente quando decidi me mudar, o fato é que as pessoas não entendem por não viver a minha realidade. Eu amo meus pais, amo minha família mas precisei entender que amar a mim mesmo vai muito além de permanecer em um ambiente que ão me fazia bem.

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