Minha Sogra Mãe

 



— Bora rebanho!! Tá na hora de levantar!

Essa é a primeira coisa que eu escuto as sete da manhã, quando minha sogra levanta. Ela sai do quarto, ainda vestindo sua camisola e vem até a sala, onde estou dormindo com a mulher da minha vida – até o banheiro da casa de cima ficar pronto.

A mulher tem uma energia que, às vezes, me faz questionar se ela dorme ligada na tomada ou se o celular dela, que vira a noite no carregador ao seu lado, passa uma parte da carga para ela.

— Vamos gente! — esse é o seu segundo chamado. — Tem casa pra limar, roupa pra lavar, comida pra fazer… Quem é que faz a comida hoje? — ela segue falando, indo pra cozinha e olhando a lista de “Tarefas de casa” que está presa na parede da cozinha, onde todo mundo – exceto ela e meu sogro – tem uma tarefa durante a semana.

Nesse meio tempo, eu já murmurei, já bufei, já pedi por mais cinco minutos, já virei de um lado a outro na cama e acabei perdendo a batalha e me levanto com a cara inchada de sono e o bico maior que um bico de tucano por ter sido acordada, mas, mesmo assim, eu sigo cumprindo as minhas obrigações dentro de casa – as vezes eu dou migué, mas é só quando ela tá de bom humor.

Barbara é a mulher mais extraordinária que eu já conheci. Mãe de três filhos, casada há mais de 20 anos com um homem de grande inteligência. Ela consegue ser doce ao mesmo tempo em que está te gritando pela casa por alguma coisa que, acreditem vocês ou não, ela também faz. Exemplo? Bagunça!

Ela não gosta de bagunça, reclama como uma condenada da bagunça que fazemos na casa, mas adivinha quem é a primeira a bagunçar?? Exatamente, Bárbara em pessoa. Me acompanhem nesse tour aqui:

Um belo dia, estávamos todos nos arrumando para ir à praia e quando estava quase tudo pronto ela começa:

— Quem viu meu protetor solar?

— Mas o protetor solar é seu, como eu vou saber? — a minha ousadia não me permite ficar de boca quieta.

— Mas você também usa sua sacana!

— Enfim, não vi o protetor.

Procuramos de um lado a outro da casa, colocamos guarda-roupa de cabeça pra baixo, reviramos armários e nada de achar o protetor. Até que lembramos que ela já havia usado o protetor naquela manhã para ir à casa da vizinha, a grande questão era: onde ela havia colocado depois de usar? Ninguém sabia. Resultado: depois de muito procurar e quase desistir de sair, encontramos o protetor em cima de uma caixa de som. Quem tinha colocado lá? Ela mesma.

Ah, teve também o carregador dela, que sumiu dentro de casa. De uma maneira extraordinária sumiu.

— Quem viu o meu carregador, véi?

— Você tirou do quarto ontem à noite, Barbinha.

— Eu não tirei

— Tirou sim… Você estava lá fora, queria ficar jogando e pegou o carregador pra continuar lá fora jogando.

— Eu não lembro disso.

— Mas eu lembro.

Então começou de novo, procura daqui, procura dali, cata de um lado, cata de outro e pronto, achou o carregador.

— Achou, Barbinha?

— Achei, boa noite.

E seguiu para o quarto.

Mas tirando isso, ela é uma boa pessoa. Você só precisa ter medo quando ela começar a falar manso com você. Aí você corre – se der tempo. Enquanto ela está gritando, te xingando, ela está sendo um amor de pessoa, acreditem.

Lembro que, quando ainda estava cogitando sair da casa de meus pais para ir morar com minha namorada, muitas pessoas perguntaram se era isso mesmo o que eu queria para minha vida, afinal, morar com a sogra nem sempre é bem visto pelas pessoas. Existe um mito de que a sogra é a cobra que quer separar o casal. E eu dizia, todas às vezes, que era o melhor pra mim no momento. Momento esse que estou aqui há dois anos, caminhando pra três e ela nunca questionou quanto a isso. No início foi difícil, me adaptar e viver debaixo do mesmo teto que ela, meus cunhados e meu sogro, mas com o tempo fui me adaptando. Às vezes ainda sinto um leve incômodo dentro de mim, por estar aqui, sendo um peso extra para ela e para todos já que não estou conseguindo trabalho, mas ela é tão incrível que faz parecer leve o peso que é carregar alguém como eu.

Ela é do tipo que aconselha, que abraça, que cuida, uma verdadeira mãe. Se minha mãe ler isso algum dia, eu peço que não fique chateada, mas que entenda que Bárbara, é a mãe que eu adotei em meu coração e que o universo fez questão de nos aproximar através de sua filha, que é o amor que sonhei ter durante um bom tempo da minha vida.

Barbara é meio virada das ideias, esquecida das coisas e aporrinha a mente de todo mundo dentro de casa para fazer as coisas – ela realmente tira a gente do sério com isso. Mas ela é, em toda sua essência, a mulher mais incrível, humana, sensata, companheira, às vezes brigona e espalhafatosa, que o mundo teve a chance de conhecer. E eu sou grata por ter a oportunidade de conviver com ela.

 

- Jamile A.


 

Comentários

  1. Parabéns minha linda,lindo texto ��������

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  2. Sei que ela é isso aí, ninguém melhor que vc pra fazer essa discrição 😉😘👏👏👏

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    1. Obrigada, tia Cátia!!!
      A senhora conhece bem a peça e até ela concordou quando leu rsrs

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