Sobre "mosntruar"
Ela chora e se estica na cama só para se encolher novamente
em posição fetal. Seu corpo todo dói e não existe chá de cidreira ou Buscopan
que ajude a melhorar. Sua companheira se mexe e ela se sente culpada, por não
deixar ela descansar. Ela tira a coberta, somente para se arrepender pelo frio
e pela dor intensa. Ela respira fundo novamente enquanto pensa “Meu Deus! Por
que eu tinha que nascer mulher?”. Seu estômago dá cambalhotas e seu intestino
praticamente grita para se libertar devido ao tanto de comida que ingeriu –
mesmo sem fome – para alimentar o “pequeno dragão não fecundado em seu útero”,
como ela costuma pensar.
Ela pega o celular que está embaixo do travesseiro e abre em um aplicativo de leitura na vã tentativa se distrair da dor. Seus olhos pesam, mas a dor não a deixa descansar.
— O que aconteceu? – ela escuta a voz rouca de sua
companheira indagar, enquanto se aproxima de seu corpo e lhe envolve em um abraço.
— Cólica... — ela responde com a voz chorosa, franzindo o cenho.
— Quer massagem?
— Já tentei e não resolve.
— Vem aqui... — sua companheira
lhe chama e todo esse cuidado lhe faz sentir culpada por todos os surtos que
teve durante o dia, por toda ignorância e gritos.
O choro mais uma vez se formou em
sua garganta, mas dessa vez por culpa e não por dor.
— Me desculpa… — ela fala. — Eu
sei que não sou uma pessoa fácil, mas eu te amo. Você sabe disso, não é?
— Sim, eu sei... — sua companheira
responde com um leve suspiro e um pequeno sorriso nos lábios. — Não precisa chorar,
você sabe que está tudo bem, meio que estou acostumada a isso. Acontece todo
mês, não é?
— Uhum… — ela apenas respira
fundo, segurando as lágrimas e sentindo o peito afundar em felicidade e amor.
— Melhorou a dor?
Por um momento ela fica quieta,
observando e sentindo seu corpo, sentindo como ele se encontra mais relaxado,
mesmo sentindo um pouco de dor.
— Sim… você é a melhor enfermeira
que eu tive na vida. — ela sorri e vira o rosto, apenas para lhe dar um beijo casto
nos lábios e volta a se deitar na posição confortável de antes. — Eu amo você.
— Eu amo você. — a resposta vem logo
em seguida, mas ela não escuta pois já ressona baixinho, dentro do abraço de
sua companheira, protegida de todo o caos que seu próprio corpo lhe causa.
- Jamile A.
Comentários
Postar um comentário
Não se cale!