Sobre reaprender...



Tenho tido tempo de refletir. 

Refletir sobre a vida, sobre os caminhos que tenho percorrido, das escolhas que tenho feito e das renúncias consequentes à elas.

Refletir sobre a corrida que impus a mim mesma no momento em que decidi me comparar com as pessoas a minha volta, sejam elas reais ou não (nem tudo é verdadeiro na internet).

Refletir sobre meu espaço, meu tempo, meu momento, meus sentimentos.

Refletir sobre minhas cobranças, minhas angústias, meus desesperos e crises.

Refletir sobre cada grama de peso que senti sobre minhas costas enquanto acreditava que a responsabilidade do mundo dar certo era minha e pensando: valeu a pena? Está valendo a pena?

Então eu percebi que estou saudosista.

Saudosista de muitas coisas, pessoas, momentos, experiências...

Saudosista da sensação de ter um livro em mãos e folhear suas páginas pela primeira vez, de escutar uma música e silenciar o mundo fora dos meus fones de ouvido curtindo a boa sensação que isso traz a minha mente e ao meu coração.

Saudosista de olhar para o céu e admirar a paisagem, de colocar meus pés na areia da praia e sentir os grãos se arrastando pela minha pele fazendo cócegas.

Saudosista de escrever sobre tudo ao meu redor em um bloquinho de notas que vivia dentro de minha bolsa e que hoje se encontra perdido em algum lugar da casa.

Saudosista de ficar horas e horas em uma conversa leve com os amigos, fazendo piadas idiotas sem sentir remorso ou amargura.

Tenho estado saudosista de mim e do que costuma(va) me fazer feliz.

Refletir sobre mim levou-me a perceber que me deixei para trás em busca de sonhos que não foram meus.

Levou-me a perceber que eu me perdi em meu caminho, tentei acelerar meus processos e deu muito errado.

Percebi, no meio de toda essa reflexão, que me deixei levar através da ótica de outros e não me permiti falar, no entanto criei armaduras e defesas que me enraizaram em um espaço quase inóspito por um longo período.

No meio de toda essa reflexão entendi que era necessário o afastamento, "recalcular a rota", renunciar ofertas para escolher minha paz, minha saúde. 

Entendi que é preciso dar dois, três, quatro passos para trás se isso significar ter "minha casa" arrumada para novas aventuras.

Confesso que ainda estou aprendendo os caminhos e sei que nem sempre vai ser fácil, afinal, o caminho do autoconhecimento é árduo, mas é o mal necessário para que saibamos traçar os nossos objetivos, estabelecer limites e saber, exatamente, onde colocar nossos pés e ancorar nossas mentes.

O saudosismo me levou para dos meus momentos de adolescente, das músicas escutadas. Algumas escuto ainda hoje, mesmo 14 anos depois (quem aí pegou a referência?). Me levou para momentos em que eu transformava a minha tristeza em alegria através de cartas escritas e filmes assistidos com minha prima e amigos. A reflexão me levou ao seguinte questionamento: quando foi que eu deixei de viver tudo isso e por quê? Para quê?

A resposta é óbivia: eu precisei crescer. E rápido. 

No entanto eu esqueci que dava pra crescer sem perder a parte de mim que me faz sorrir.

Agora eu quero, de todas as formas, retomar os sorrisos daquela época. Como diz a dupla ANAVITÓRIA, "eu quero ir pra' me reconhecer de volta / pra' me reaprender e me aprender de novo" e eu não estou falando de amores que deram errado, ou talvez seja, talvez esteja falando do amor por mim mesma.

Enfim, eu só queria registrar que:

1 - nem sempre a escolha vai valer a pena a renuncia a ser feita;

2 - crescer não significa esquecer o passado, mas aprender com ele e guardar a bagagem necessária para ser uma pesssoa bacana e não babaca;

3 - não se perca de si mesmo na tentativa de alcançar expectativas que não são suas no desespero da vida adulta.


Beijos da Jam.

Até a próxima!


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